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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

MNE: Portas continua "a esticar a corda"


MESMO TENDO deixado de ser ministro dos Negócios Estrangeiros desde finais de Julho, Paulo Portas continua a insistir em relacionar-se directamente com as várias embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo com um à-vontade que está a colocar o actual ministro em maus lençóis. Sem atender a qualquer regra ou tradição, Portas insiste, desde o seu gabinete nas Laranjeiras, em transmitir directivas aos embaixadores portugueses espalhados pelo mundo sem passar "cavaco" ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (algo que nem o gabinete do primeiro-ministro faz…) e chega mesmo  em conversas mantidas com representantes estrangeiros ou diplomatas portugueses a ignorar ou desvalorizar o seu sucessor nas Necessidades, continuando a alardear um comportamento de ministro dos Negócios Estrangeiros  "de facto". Essa postura de Portas começa a criar um crescente mau-estar no governo. Não propriamente nas Necessidades onde Rui Machete continua pura e simplesmente a ver navios e onde o seu chefe de gabinete é homem de confiança de Paulo Portas e  foi "herdado" da sua equipa, mas sim na residência oficial do primeiro-ministro onde os sucessivos relatos de vários embaixadores portugueses têm encontrado eco em Francisco Ribeiro de Menezes, o diplomata que chefia o gabinete de Pedro Passos Coelho e de quem é amigo pessoal. 
Este estado de coisas só é possível pela estado de "extrema fragilidade política" em que se encontra Machete, agora já não só devido às trapalhadas em que esteve envolvido enquanto dirigente, accionista da SLN e presidente da FLAD, mas agora também após a gaffe protagonizada aos microfones da Rádio Nacional de Angola e que politicamente o reduziu a uma necessária e óbvia insignificância que só a já conhecida teimosia do primeiro-ministro o mantém como ministro. 
Aliás a este propósito, seria curioso percebermos a quem de facto interessou a divulgação pública, através do "Diário de Notícias" e com quase um mês de atraso, da desastrada declaração de Machete em Luanda. E na prática, quem lucrou com ela? E já agora, como é que a informação demorou um mês a chegar ao jornalista que aliás, diga-se de passagem, obteve assim um excelente "furo"? Será que ali não houve algum prestimoso e diligente "dedo" que, embora tardiamente, tenha empurrado para fora das Necessidades algum telegrama da nossa representação em Luanda? Uma coisa é certa: a partir desse episódio e somando-o a toda a "carga" que já trazia do seu passado nebuloso, Machete perdeu todo e qualquer espaço e margem de manobra para chefiar a diplomacia portuguesa. Que pelos vistos continua a ser manobrada pelo anterior titular, agora a partir do palacete do conde de Farrobo...

sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão...


CADA UM tem a opinião que tem. Maria João Avillez tem a dela. Escutei-a ontem, por momentos, no "Expresso da Meia-Noite". E confirmei o que penso cada vez que a oiço neste papel de analista: apesar de tudo preferia-a mil vezes enquanto jornalista do que pretensamente como comentadora política. É a minha opinião.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O "caso do avião da TAP": um inquérito conclusivo


SE O assunto não fosse sério e não envolvesse na prática situações que até são do foro humanitário (estou a referir-me, por exemplo, ao transporte de doentes para tratamento em Lisboa, etc.) eu até poderia achar alguma piada aos disparates que, a propósito do inquérito mandado realizar pelo governo da Guiné-Bissau sobre o que se passou com o já famoso embarque dos 74 cidadãos aparentemente sírios, algumas luminárias e outros auto-intitulados experts em relações e política internacional têm perorado. Já cheguei mesmo a ler - pasme-se! - que o inquérito devia apresentar "um pedido de desculpas", não percebi bem a quem - se à TAP, se ao governo português em geral (ou ao dr. Machete em particular) ou mesmo se a algum sírio… Isto como se uma comissão de inquérito fosse alguma vez constituída para outra coisa que não inquirir, ou seja, averiguar. Enfim…
Adiante. Mas o que eu acho de facto "notável" é a forma como têm sido apresentadas as conclusões do relatório relativo ao inquérito que foi levado a cabo em apenas  6(!) dias e no qual foram ouvidos sem delongas, subterfúgios ou recursos a escusas institucionais ou legais, dois ministros (dos Negócios Estrangeiros e do Interior), um secretário de Estado, um inspector-geral de um ministério, um responsável e outro agente dos serviços secretos, um chefe dos serviços fronteiriços e o chefe de escala da TAP em Bissau. Quem oiça ou leia a generalidade das notícias vindas a público nas últimas horas sobre o inquérito e as suas conclusões pensará que as autoridades guineenses pura e simplesmente sacudiram a água do capote e imputaram toda a responsabilidade sobre o ocorrido para cima da companhia aérea portuguesa. Nada mais errado, foi exactamente o contrário…
O relatório do inquérito levado a cabo pela Comissão de Averiguação, presidida pelo ministro da Justiça, é mais do que taxativo quando aponta o ministro do Interior António Suca Ntchama como tendo exercido "pressões ilegítimas" sobre o chefe de escala da TAP e reconhece que assiste às companhias aéreas o direito de poderem "recusar o embarque de qualquer passageiro por mais legal que esteja para o vôo", ao mesmo tempo que recusa o direito de "qualquer autoridade pública, ou não, poder determinar em sentido contrário". Simultaneamente, o mesmo documento conclui a existência de uma "rede organizada" que tem utilizado a capital guineense para a passagem para a Europa de refugiados sírios e implica neste caso concreto a representação diplomática da Guiné-Bissau em Rabat e, pelo menos, dois membros dos Serviços de Informação e Segurança daquele país, de seus nomes Carlitos Pedro da Silva e Higino Sá
Por outro lado, nesse mesmo inquérito ficou provado que, contrariamente ao que chegou a ser divulgado à exaustão, não existiu "qualquer recurso à força física ou a armas de fogo" tendente ao embarque dos referidos 74 passageiros (todos eles que não transportavam bagagem de porão para registar e já tinham efectuado o chek in via on line, estando portanto assim dispensados de efectuar o check in presencial) e que este só se verificou após duas conversas telefónicas, mantidas desde Lisboa, pelo facto de Sérgio Monteiro Bagulho, o director de escala para África e América da TAP, ter dado instruções ao chefe de escala local da sua companhia para que o embarque dos passageiros em causa fosse efectuado, tendo sido então emitidos novos cartões de embarque.
Resumindo e concluindo: contrariamente ao que têm querido fazer crer, o inquérito e o relatório do mesmo não iliba as autoridades guineenses, bem antes pelo contrário. Aponta o dedo ao próprio ministro do Interior, implica dois membros dos serviços de inteligência e funcionários da rede consular, admite a existência de uma rede organizada e "a existência de agentes dentro do aeroporto que respondem indevidamente a pessoas estranhas à estrutura", reconhece o direito à TAP de recusar o embarque de passageiros, mas deixa claro que não existiu qualquer recurso à força de nenhuma espécie e que o embarque foi devidamente autorizado por responsáveis da companhia aérea em Lisboa.
A terminar, não resisto apesar de tudo a lançar uma pergunta: em Portugal quantos meses demoraria um inquérito deste tipo a ser concluído? Que desculpas esfarrapadas apresentariam os membros do governo (já para não falar dos membros das "secretas") para furtarem-se ou atrasarem o seu depoimento? Alguém é capaz de pôr as mãos no fogo sobre a "margem de manobra"  (leia-se isenção) que teria uma comissão formada por um ministro e dois membros de gabinete para acusar um membro do governo, como fez esta Comissão de Averiguação relativamente ao ministro do Interior guineense? E por último: alguém acredita que, tal como aconteceu em Bissau há dois dias, o referido ministro fosse obrigado, como qualquer vulgar cidadão, a ir prestar depoimento como "suspeito" ao Ministério Público e saísse de lá, tudo o indica, como arguido. Pois é… mais uma vez o dr. Chancerelle Machete perdeu uma excelente ocasião para estar calado e não fazer tristes figuras - ele, o governo português e o próprio Presidente da República, esse então que já devia possuir a experiência política necessária para saber que antes de abrir a boca convém saber exactamente do que se fala...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

2013: os meus blogues do ano


HÁ BLOGUES que  se tornaram imprescindíveis no meu dia-a-dia, muitas vezes mais que qualquer jornal e que me permitem ter uma ideia de como interpretar o que por aqui se vai passando - isto independentemente do posicionamento político dos seus autores.  Quase a acabar o ano e em jeito de balanço - tão em voga nos dias que correm - e tal como o fiz relativamente ao Facebook não resisto a deixar aqui o meu top ten de preferências no que diz respeito à chamada blogoesfera  e em que a ordem dos factores é totalmente arbitrária:

José Medeiros Ferreira  no http://cortex-frontal.blogspot.pt;
Luís Meneses Leitão (http://syntagma.blogs.sapo.pt)
João Gonçalves (http://portugaldospequeninos.blogs.sapo.pt);
Francisco Seixas da Costa (http://duas-ou-tres.blogspot.pt);
Vítor Dias (http://otempodascerejas2.blogspot.pt);
José Milhazes (http://darussia.blogspot.pt); 
Rui Costa Pinto (http://maisactual.blogspot.pt);  
Paulo Pinto de Mascarenhas (http://abcdoppm.blogs.sapo.pt); 
Câmara Corporativa (http://corporacoes.blogspot.pt);
Pedro Magalhães (http://www.pedro-magalhaes.org).

Marques Mendes e "Argileu Palmeira"



QUEM SE lembra da primeira versão da telenovela "Gabriela" que tanto furor fez em Portugal, certamente estará recordado de uma caricata personagem, interpretada pelo actor Hugo Carvana, que respondia pelo nome de "Argileu Palmeira" e que por "dá cá aquela palha", solícito e exageradamente reverente, estendia o seu cartão de visita ao interlocutor que lhe calhava em sorte, sempre recitando o que lá vinha impresso: "Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, ou seja: advogado de grau e capelo, e bacharel em letras. Promotor público da comarca de Mundo Novo, no sertão baiano. Para servi-lo, caro senhor". Não sei porquê, mas cada vez que apanho com os comentários televisivos de Luís Marques Mendes é inevitável que vir-me à memória o impagável "Argileu Palmeira" e a forma lesta como a personagem oferecia os seus serviços. Ainda ontem, quando vi o entusiasmo com que Mendes na SIC "elegeu" Zeinal Bava e Isabel dos Santos como as personalidades do ano na área da economia, não consegui deixar de imaginá-lo, de cartão de visita na mão e tal e qual a personagem criada por Jorge Amado é descrita no guião daquela telenovela: "um cinquentão enorme e gordo, mulato bem claro e bem apanhado, de sorriso largo e cabeleira em juba, vestido com caças de listas, paletó e colete de mesela" - isto apesar do irrequieto Mendes não ser nem enorme, nem gordo, nem o seu cabelo se assemelhar a uma juba. Embora há quem diga  que ele está feito um verdadeiro "leão" no que diz respeito à "consultadoria", ou seja um autêntico rei na "selva". Quem diria, ahn?

P.S. - Ah, é verdade! Neste sábado, em resposta a uma pergunta da pivot do Jornal da Noite, Marques Mendes saiu-se com esta: "A minha sorte é não ser primeiro-ministro". Eu por acaso, acho que a sorte não é dele - é nossa, mas pronto...

Ainda há quem faça jornalismo em Portugal



EM FEVEREIRO de 2012 tive oportunidade de ler e aqui escrever sobre um excelente trabalho de seis páginas no "Público" acerca do projecto de media do grupo Ongoing. Hoje, no mesmo jornal, li outro excelente trabalho - este sobre o que é denonimado como "a história do maior conflito na cúpula do capitalismo português do pós-25 de Abril", ou seja o confronto que opõe o grupo Espírito Santo a Pedro Queiroz Pereira. O que possuem em comum estes dois textos? A autora: Cristina Ferreira, alguém que não conheço, mas que nos faz acreditar que ainda há quem faça jornalismo em Portugal...

domingo, 22 de dezembro de 2013

Guiné-Bissau: depois não se queixem...


DESDE HÁ muitos anos, em especial desde o governo de Durão Barroso, que a política portuguesa relativamente à Guiné-Bissau tem sido marcada por factores que objectivamente a condicionam e que têm colocado outros interesses, que não os do Estado português, à frente do que devia determinar essa mesma política. 
Perdoe-se-me a imodéstia, mas sei do que falo. E há que chamar os bois pelos nomes. Há que dizer, preto no branco, que em grande parte das decisões tomadas em Lisboa sobre a sua antiga colónia pesam mais factores de interesse pessoal de quem tem tido capacidade de influenciar os responsáveis políticos que qualquer outra coisa. Eu nestes anos já vi um pouco de tudo: desde altos quadros da Galp serem sócios de um antigo primeiro-ministro daquele país até a um negligente conselheiro da nossa embaixada em Bissau preocupar-se única e exclusivamente com os seus negócios particulares de exportação de caju em constante detrimento de dossiers sensíveis e de inegável importância, passando pela verdadeira inoperância por parte de quem devia possuir a obrigação de, no terreno, recolher as informações essenciais para os decisores políticos. Como também já vi embaixadores portugueses acreditados em Bissau (há excepções, honra lhes seja feita!) que encaravam e exerciam o posto como se de um "frete" se tratasse ou chefes da diplomacia portuguesa sempre lestos a seguirem caninamente as directivas vindas da capital angolana.

Sejamos claros: hoje a Guiné-Bissau pode viver na iminência de mais um golpe de estado. Só não o vê quem não quer. O que se tem passado nas últimas semanas, com um ministro  espancado à porta de casa em circunstâncias que muitos atribuem a uma crescente tensão entre governo e militares; com outro que foi protagonista de um episódio mal-contado e cujo afastamento terá de ter obrigatoriamente a "benção" do poderoso general António Indjaí; e com ainda outros episódios graves que não vieram a público mas que mostram bem como hoje os militares olham com desconfiança os civis que ocupam o poder em Bissau, é preocupante e devia levar Lisboa a repensar a sua posição autista e pouco consentânea com o que deviam ser os interesses do Estado português, hoje tão à mercê dos jim thompson's da vida e das suas negociatas.  Oxalá me engane e este meu prognóstico não passe de um mero desabafo pessimista... Mas se por azar, este actual governo guineense (que integra os principais partidos, incluindo o PAIGC do primeiro-ministro deposto, é preciso que se note…) vier a ser derrubado, então sim acreditem que qualquer presença ou influência portuguesa naquele país pura e simplesmente desaparece. E não venham então dizer que a culpa é do general "X", do brigadeiro "Y" ou do coronel "nãoseiquê", para quem Portugal nada significa e para quem infelizmente hoje apenas identificam como quem  fechou os olhos, virou as costas, pactou ou mesmo estimulou ao longo dos últimos dez anos a degradação do estado de coisas na Guiné-Bissau. Ou seja quem contribuiu objectivamente para facilitar a chegada e a manutenção no poder de quem dele se serviu para destruir uma nação e apropriar-se das suas riquezas, em nome de uma democracia que nunca existiu e de um estado de direito que se baseava na roubalheira mais descarada. A culpa, essa, isso sim, será, entre outros, de um Durão Barroso, de um Paulo Portas, de um Passos Coelho e até de um Cavaco Silva. Só não será de um Rui Machete porque esse, coitado, é praticamente inimputável!

Roby Amorim


O MEU amigo José Ferreira Fernandes garante que só falou uma vez com o Roby Amorim. Eu acho que lhe fui apresentado pelo Joaquim Ferreira Pinto, o "Pingas" que não vejo há anos, meu colega de "Tal&Qual" e comparsa de noitadas. Conheci-o mal, mas o suficiente por o ter na conta de alguém sério, profissional e que lidava como poucos com aquilo que um jornalista tem de mais precioso - a palavra. O Zé Ferreira Fernandes escreveu um texto muito bonito sobre o Roby. E eu não resisto em transcrevê-lo:
"Uma das minhas canções é La Mer, Charles Trenet canta-a no feminino, como é em francês, e eu sempre a ouvi sem estranhar o género. Alguém me disse que o mar, enquanto foi calmo e doce como o Mediterrâneo, era assim, mulher, mas quando se transformou connosco mar-oceano, brutal e viril, mudou de género - "o mar" como dizem os Albuquerques. Acontece às palavras ao saltar das fronteiras e, até, ao passar do tempo. Disse-me alguém: "Fim" em francês é feminino, "la fin", e por cá também já o foi. No túmulo de Pedro I e Inês, escreve-se na pedra: "Até a fim do mundo." Em aldeias do Minho, às ruazinhas estreitas chamava-se cangostas, de angusta, estreito. Mas de que me serve sabê-lo quando os becos já não se chamam assim?, perguntei a alguém. Encolheu os ombros, talvez seja quase inútil, mas terei eu reparado que angusta também deu angústia, a do aperto no coração, a do nó na garganta, a da estreiteza algures em nós?... Esse alguém, Roby Amorim, começou a ser jornalista no ano em que nasci, conheci-o quando ele publicou um livrinho: Elucidário de Conhecimentos quase Inúteis. Era sobre a sua ferramenta, a palavra. Falei com ele uma só vez, como deve ser com os jornalistas, que são para uso breve. Roby Amorim tinha cara de poucas palavras porque estava ocupado com elas: "É fascinante saber porque se designa um certo animal por cão, uma peça de mobiliário por cadeira..." São fascinantes os homens apaixonados, digo eu. Morreu ontem".
Um abraço, Nuno!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sobre Pacheco Pereira...


INDISPENSÁVEL A leitura deste breve texto do embaixador Francisco Seixas da Costa no seu blogue "duas ou tres coisas" onde sob o título "Os novos 'camaradas'" aborda com notável acuidade um certo "regresso às origens" de José Pacheco Pereira que, ao ritmo que vai nas suas tomadas de posição, arrisca-se a ultrapassar velozmente pela esquerda o seu colega de painel António Costa... Aqui fica, com a mais que merecida vénia: Ouvir Pacheco Pereira, como há pouco ouvi, considerar que o Partido Socialista não deveria ter-se associado ao modelo final da reforma do IRC, mesmo após a aceitação de algumas das suas principais propostas, apenas porque isso favorece a estratégia política da maioria, só não é uma surpresa porque os últimos meses fizeram emergir na política portuguesa um estranho fenómeno. Esse fenómeno é a sedução que a oposição tem pelo discurso, às vezes bem radical, de figuras que, sendo originárias desta maioria, alimentam hoje um discurso fortemente crítico do atual poder. Ironicamente, parece que os mesmos argumentos, quando assumidos por figuras próximas dos partidos conservadores, têm "mais encanto" e acabam mesmo por ter uma maior credibilidade. Não duvido que tenha sido a genuinidade da razão política que levou essas pessoas a mudar de ideias, confrontando assim as posições atuais dos partidos de que estiveram próximas. Mas, em alguns casos particulares, como que deteto na atitude desses novos "camaradas" da esquerda uma espécie de revanchismo que, não diminuindo a sua "utilidade" para a estratégia da oposição, não deixa de ser um tanto estranha. A mim, pelo menos, o fenómeno causa-me alguma incomodidade, devo confessar. Mas, se calhar, sou eu que estou a ser demasiado preciosista…". Na mouche!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mário Soares: para bom entendedor...


COINCIDÊNCIA OU não, Mário Soares elegeu o "Diário de Notícias" (propriedade da Controlinveste, alvo recente de uma recomposição accionista em que um empresário angolano e um familiar do actual Presidente da República assumiram posições de controlo…) para no seu artigo semanal, publicado ontem, afirmar certeiro: "Os jornalistas, cada vez mais dependentes dos patrões, deixaram de dizer o que pensam - como antes faziam - para agradar ao que julgam pensarem os patrões". Como diz um amigo meu, em linguagem militar isto assemelha-se a um "pre-emptive strike", que é como quem diz "um ataque preventivo" ou, melhor, que Soares está a jogar pelo seguro.
Aliás, quem nos últimos tempos tenha estado particularmente atento a alguma evolução editorial, tanto no "DN" como na TSF, já notou que existe ali alguma "adaptação" aos novos ventos que naturalmente já começaram a soprar desde lugares tão díspares quanto Luanda, Belém ou Estoril… 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Miguel Horta e Costa: será ele "a rainha de Inglaterra do BES"?


AS COISAS continuam complicadas para os lados do grupo Espírito Santo, isto apesar do silêncio que foi "imposto" logo a seguir à eclosão do conflito em que uma significativa parte do chamado "núcleo duro" do grupo questionou a liderança de Ricardo Salgado e anunciou publicamente a sua substituição a médio-prazo. O recente e explosivo artigo do "Wall Street Journal" da semana passada, apesar de "silenciado" na generalidade dos media portugueses, caiu como uma bomba nos meios financeiros e, segundo consta,. motivou uma óbvia (mas discreta) intervenção do Banco de Portugal que nos últimos dias tem chamado às suas instalações os principais responsáveis do Banco Espírito Santo, nomeadamente o próprio Salgado.
Uma coisa é certa: a substituição do actual presidente do BES está para breve e  tudo indica que dificilmente passará do próximo Verão.  E se há algumas semanas, era dado como certo que a sua retirada far-se-ia através de uma oportuna nomeação para chairman da CorpCo (a empresa que juntou a portuguesa PT e a a brasileira Ôi e que tem a sua sede no Rio de Janeiro), hoje isso parece bastante mais complicado. É que, segundo consta nos meios financeiros, as relações entre os dois accionistas não são propriamente as melhores, com os investidores brasileiros a exigirem que a PT "acompanhe" os investimentos como condição para manter algum controlo da operação. Assim, a prolongar-se este "braço de ferro"  parece difícil que Ricardo Salgado (que curiosamente possui há muito, tal como a mulher Maria João, a cidadania brasileira) ter garantido o seu "recuo" em terras brasileiras.
Paralelamente, sucedem-se as movimentações com vista à sua sucessão, com o seu primo José Maria Ricciardi - para já - conformado em recuar nas suas ambições e limitar-se nesta fase a assumir um papel que, ainda que aparentemente secundário, poderá no entanto vir a ser determinante na disposição das peças no complexo "xadrez" que definirá quem será o próximo "homem forte" do grupo Espírito Santo. E é exactamente neste contexto que nas  últimas semanas tem surgido um nome que parece gerar algum consenso para  "interinamente" liderar o grupo: Miguel Horta e Costa, o antigo presidente da PT e desde sempre um homem de confiança do "clã". Quem defende uma solução deste tipo, acha que, até os ânimos esfriarem e ser possível encontrar um nome que gere unanimidade e capaz de, simultaneamente, "blindar" e unir o grupo, é necessário que a representação exterior do grupo seja confiada a quem "não possua grandes ambições, tenha uma postura low profile e que perceba que está ali única e interinamente para prestar um serviço", ou seja alguém que não se importe de desempenhar um papel  tipo "rainha de Inglaterra", algo que Horta e Costa aparentemente estaria disposto a interpretar. Há mesmo quem garanta que ainda há poucos dias Ricciardi,  seu amigo pessoal e que não veria com maus olhos uma solução deste tipo, fez questão de sondar o Crédit Agrícole (um dos accionistas de referência do grupo, onde detém 15 por cento do BES) sobre esta solução. 
Quem entretanto apostou na possibilidade de uma reconciliação entre Salgado e Ricciardi pode definitivamente "tirar o cavalinho da chuva". Este último não perdoa ao primo e ao seu braço-direito Amílcar Morais Pires a forma como estes alegadamente o envolveram no processo  em que é arguido e relativo à privatizado da EDP e da REN - e foi exactamente isso que fez transbordar um copo que já se encontrava demasiado cheio no que diz respeito às relações de forças dentro do grupo...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Grande fotografia!


DÁ GOSTO ver boas primeiras páginas de jornais. A do "Público" de hoje vale essencialmente pela grande fotografia que ilustra o terrível acidente em que desapareceram seis jovens na praia do Meco. Está lá tudo: a força do mar, a impotência do bombeiro, as buscas, tudo - é título, é lead, é legenda, não falta nada para que quem a observe perceba o que se passou naquela madrugada de sexta para sábado no Meco. A isto chama-se jornalismo, tão simples quanto isso…
Aqui fica, com a mais que merecida vénia, uma excelente foto de alguém de quem eu nunca tinha ouvido falar e que certamente não irei esquecer o nome - Miguel Manso. Grande fotografia!

Um disparate!


SÓ QUEM não conhece minimamente a realidade do sector da vigilância privada no nosso País (e aqui desculpem-me o parentesis, mas eu conheço!) é que pode vir a terreiro defender a aprovação de legislação que permita às empresas de segurança substituir-se aos guardas prisionais nas cadeias portuguesas. Muito por inércia das próprias autoridades, o recrutamento, selecção e formação dos vigilantes é deficiente e omisso quanto ás mais elementares regras de prevenção e controle dos milhares de profissionais que prestam serviço por esse País fora, quase sempre auferindo o salário mínimo e em contratos precários. A prova está à vista, muitas vezes em casos e processos mediáticos onde os principais arguidos são ou foram funcionários de empresas de segurança e que, por um motivo ou outro, se envolveram, em actividades violentas - veja-se por exemplo, entre muitos outros episódios, o recente caso do assassino confesso de Alexandra Neno ou mesmo o célebre processo "Noite Branca" que ainda há anos agitou a noite portuense. 
Eu percebo que o presidente da Associação de Empresas de Segurança tenha de mostrar serviço, até porque está lá é para isso. Mas convenhamos que há limites para tudo, especialmente para quem, como Rogério Alves faz  questão de mostrar-se sempre tão eticamente imaculado. É caso para dizer que o frenético antigo bastonário perdeu uma excelente oportunidade para estar calado. E esperemos que a ministra da Justiça tenha o bom senso de não ir na "canção do bandido" - que é como quem diz, obviamente...

domingo, 15 de dezembro de 2013

Ainda sobre o vôo de Bissau...


COMO SERIA de prever e como aqui se prognosticou, os contornos do rocambolesco episódio que girou à volta do já célebre vôo de Bissau da TAP começam a clarificar-se e, afinal, aquilo que praticamente era apresentado como quase se de um "assalto" ao avião se tratasse parece não ter passado de um telefonema de um ministro guineense a um chefe de escala da TAP, cuja versão conhecida até agora é a do funcionário da companhia área portuguesa. Mas é no mínimo curioso que de repente as tais "armas apontadas à tripulação" desaparecessem; que as repetidas "ameaças que o comandante foi alvo na sala de operações do aeroporto por parte de um grupo de soldados armados até aos dentes" não tivessem acontecido; e que o tal "ministro que chegou a ir à pista forçar a entrada dos 74 sírios no avião" afinal nunca tivesse ido sequer ao aeroporto. Aliás Fernando Pinto, o presidente da TAP, foi suficientemente claro ontem quando afirmou: "Não houve demonstração de força perante a tripulação", limitando o incidente a "pressões feitas sobre o chefe de escala" - pelos vistos, telefonicamente... Só falta mesmo agora dizerem que os sírios não são sírios e que nunca, em outro país qualquer, algum chefe de escala da TAP foi alguma vez sujeito a "pressões" por parte de alguma autoridade local. Uma coisa é certa: em termos operacionais, com a falta de aparelhos que a TAP tem neste momento, dá um jeitão suspender três vôos semanais para Bissau e, quando muito, reforçar as ligações para Dakar com mais um vôo semanal. E então se os TACV derem uma ajuda e começarem a voar regularmente da Praia ou mesmo do Sal para a capital guineense, então sim - isso é que era!