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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os telefonemas de Sócrates



HÁ BEM pouco tempo uma destacadíssima figura do universo socialista (hoje afastada dos holofotes) contava-me que raro é o dia em que José Sócrates não pega no telefone e, desde o seu “exílio” parisiense, desanca forte e feio em António José Seguro junto dos que lhe são mais próximos, acusando-o de estar a reboque do governo. Segundo me contaram, o palavreado utilizado pelo antigo primeiro-ministro é de fazer corar a mais grosseira das criaturas ao cimo da terra. Imagino pois o que terão sido os últimos dias de Sócrates e dos seus apaniguados, a presenciar este claro “baixar de armas” do PS (e não só da sua direcção) relativamente ao governo- especialmente ap?﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽ bom e o bonito!deiro")  s vezes; e finalmente Elisa Ferreira (por quem Snvestigadores norte-americanos ós a reunião entre Seguro e Pedro Passos Coelho. Quanto berros e impropérios terão sido soltados desde Paris, quando o antigo chefe do governo viu Vital Moreira afirmar que “a crise é duradoura e não atalhos ou milagres”; o seu antigo ministro Luís Amado dizer que “existem coisas mais importantes que a RTP”; o outrora obediente Carlos Zorrinho confessar que que “gostaria que o primeiro-ministro ouvisse o PS mais vezes”; e finalmente Elisa Ferreira (por quem Sócrates nunca morreu de amores...) confidenciar que quer “um consenso nacional verdadeiro”? Deve ter sido o bom e o bonito!

A "amona" de Portas


PARECE QUE
 o juíz Carlos Alexandre ordenou a transcrição e a correspondente junção aos autos de escutas telefónicas a Paulo Portas no famigerado processo dos submarinos. Segundo os jornais de hoje, nessa escuta Portas comunicava ao seu companheiro de partido Brandão Rodrigues (na altura presidente da Comissão de Contrapartidas) que conversas sobre submarinos "só por telefone fixo ou encontro presencial". 
Para quem ainda há dias argumentava sobranceira e aparentemente despreocupado que as notícias sobre este caso "emergem e depois, de repente, submergem", cheira-me que esta decisão de Carlos Alexandre soube a Portas como uma valente "amona"...

Campanha eleitoral no Brasil (X): a importância de um bom programa de TV

A MAIS recente sondagem, divulgada ontem pelo diário "Folha de São Paulo", sobre a disputa eleitoral naquela cidade só vem provar a importância que um bom programa de televisão - no caso o de Fernando Haddad, que postámos e destacámos aqui ainda recentemente - pode possuir junto do eleitorado. É que em apenas 7 dias (a última sondagem datava do dia 21, curiosamente o dia em que se iniciaram os tempos de antena) o candidato do PT duplicou as intenções de voto (de 7 para 14 por cento), enquanto José Serra, o seu principal opositor, descia 6 pontos, ficando-se pelos 22 por cento. E dado que nos oito dias que mediaram entre os dois estudos, a "surpresa-Celso Russomano" manteve os 31 pontos que lhe dão o primeiro lugar nas sondagens, fica claro que Haddad tem conseguido "entrar" no eleitorado de Serra e que essa "proeza" se deve sobretudo à excelente qualidade dos seus programas de TV. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vila Real de Santo António e a fusão de munícipios

CONHEÇO RAZOAVELMENTE bem Vila Real de Santo António e a região envolvente, bem como  alguns detalhes do nascimento dessa cidade por obra e graça do Marquês de Pombal que, num claro acto de afirmação de soberania, a mandou edificar nas margens do Guadiana. Talvez por isso mesmo - por conhecer a realidade daquele pedaço do sotavento algarvio -  não me surpreendo com a decisão da Assembleia Municipal de Vila Real de Santo António em recomendar ao governo a fusão do município com os concelhos de Alcoutim e Castro Marim, este último um verdadeiro "enclave" cuja existência não tem, à primeira vista, grande justificação. Vou mais longe: acho mesmo um excelente exemplo para uma reforma da administração local que, afinal, parece ter ficado apenas pelas freguesias e que pode - como se vê por esta proposta - ir bastante mais longe. Não é, como diz o presidente da câmara de Castro Marim, "uma brincadeira de mau gosto" - é, isso sim, uma prova de responsabilidade e maturidade. E por esse País fora existirão certamente muitos outros casos onde a fusão de municípios terá toda a justificação.

RTP

SEM QUALQUER sombra de dúvidas, eu preferia que o governo optasse pura e simplesmente por vender a RTP-1 e mantivesse, ainda que em moldes de funcionamento totalmente distintos dos que hoje ocorrem (por exemplo, integrando a AR TV...), a RTP-2 como canal de serviço público.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mais que ridículo - idiota...

PARA QUEM está longe, estar atento ao que se diz e escreve em Portugal por vezes assume foros de suplício, tais as alarvidades que se lêem e ouvem em tudo o que é jornal, revista, rádio e televisão. A última que me foi dada ler prendeu-se com a justificação que algumas "luminárias" que pululam no nosso jornalismo resolveram encontrar para o adiamento da prevista cimeira luso-brasileira que deveria realizar-se em Brasília no próximo dia 6 - nada mais nada menos que o julgamento do "caso do mensalão" que decorre desde o passado dia 2 no Supremo Tribunal e Justiça... Como se um julgamento que decorre com toda a tranquilidade e que em nada perturbou a agenda da presidente Dilma Rousseff (nem tinha que perturbar...) ou a campanha eleitoral que tem como palco os mais de 5 mil e 564 municípios brasileiros, fosse o motivo para adiar uma simples cimeira entre Dilma  e Pedro Passos Coelho. Não é só ridículo, é idiota!

O Cunhal dos pobrezinhos...

QUEM PENSA que a substituição de Francisco Louçã à frente dos destinos do Bloco de Esquerda significa que o País pode ver-se livre daquele que se julga, a si próprio, como uma referência ética-moral do regime, engana-se redondamente. O inefável Louçã está a tentar conduzir o seu processo de sucessão na liderança dos bloquistas um pouco à imagem e semelhança do que, nos anos 90, Álvaro Cunhal fez no Partido Comunista e assim, na sombra, continuar a "mexer os cordelinhos" daquela organização.  O que ainda faz ter alguma esperança a quem há muito deixou de ter "pachorra" para a criatura é que nem Louçã é (definitivamente!) Cunhal nem João Semedo se prestará a desempenhar o papel que o obediente e servil Carlos Carvalhas desempenhou durante anos à frente do PCP. Daí a insistência de Louçã e os seus homens numa liderança bicéfala e no nome de Catarina Martins...

Campanha eleitoral no Brasil (IX): os programas de Fernando Haddad



ANTIGO MINISTRO da Educação de Lula (e também de Dilma), Fernando Haddad foi a escolha do PT para enfrentar José Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo. Pouco conhecido, os estrategas da sua campanha apostam tudo no espaço televisivo e numa super-exposição de Lula para que o candidato "petista" consiga disparar nas sondagens e atingir a segunda volta das eleições de Outubro. Assim os seus "horários eleitorais" (tempos de antena) são uma "ferramenta" essencial na estratégia de crescimento e como tal têm sido produzidos com um cuidado extremo. Vale a pena assistir atentamente a estes 7 minutos e pouco de programa de Haddad e observar o roteiro, a linguagem, a estética e até a trilha musical utilizada nesta produção. A todos os títulos, notável!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Na "mouche"!


NÃO SOU propriamente fã de  José Pacheco Pereira. Mas isso não me impede de subscrever algumas vezes as suas opiniões. Como uma que li há bem poucos dias  e em  compara o "folhetim dos submarinos"  com o famigerado "caso Freeport" - aliás de uma forma bem singela e extremamente lúcida: "(...) cada vez que se sabe mais, mais obscuro parece". Na mouche!

sábado, 18 de agosto de 2012

Pago para ver...


AGORA QUE começa a colocar-se a hipótese de, afinal, Isaltino Morais poder ser recandidato à Câmara de Oeiras, estou "mortinho" por ver como é que - a confirmar-se esse cenário - os que, tanto no PSD como PS, se precipitaram para encabeçar as respectivas candidaturas à edilidade vão "descalçar a bota"...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Campanha eleitoral no Brasil (VIII): uma surpresa chamada Celso Russomanno



NÃO É a primeira vez que entra numa disputa eleitoral em S.Paulo, cidade aliás que representa como deputado federal há 16 anos. Em 2010 foi candidato a governador e agora, este ano, resolveu candidatar-se a prefeito. Chama-se Celso Russomanno e não podemos dizer que seja levado em grande conta, especialmente pela media e pela elite paulistana - muito pelo facto de apresentar um programa de televisão virado para os problemas do consumidor e por hoje, após ter passado por quatro partidos em menos de duas décadas, ter "aterrado" no PRB, o "braço político" da IURD do bispo Edir Macedo
Mas a verdade é que em todas as campanhas, nas primeiras sondagens, Russomanno surge quase sempre bem colocado, o que é normalmente interpretado pelos analistas como resultado da exposição televisiva que possui durante todo o ano na TV Record - até porque quando, por lei, o seu programa é obrigado a sair de "grelha" é inevitável a descida nos estudos de opinião. Só que este ano, mesmo já fora dos ecrãs, Russomanno está a ser a grande surpresa da campanha em São Paulo, onde enfrenta José Serra (cujo índice de notoriedade é brutal) e o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que tem Lula como seu principal "cabo eleitoral". Mesmo sem programa televisivo e sem que a campanha tenha oficialmente começado, o candidato de Edir Macedo vai subindo de sondagem para sondagem, a ponto do estudo do Ibope, divulgado ontem pela TV Globo, o colocar empatado com Serra na preferência do eleitorado paulistano com 26 por cento. E quando questionados quanto à preferência numa hipotética segunda volta entre ambos, os inquiridos são claros e dão de novo a vitória a Russomano, por 42 a 35 por cento de Serra...

Genial!

COM A mais que merecida e devida vénia, não resisto a transcrever a coluna do meu amigo José Ferreira Fernandes que acabei de ler na edição online do "Diário de Notícias". Como todos os escritos de "FF", este "Assange e a guerra do preservativo" é uma peça verdadeiramente notável e onde o autor, aliás como sempre, consegue ir buscar o "lado óbvio" (chamemos-lhe assim...) dos factos, "embrulhando-os" inteligente e ironicamente: "Em agosto de 2010, Julian Assange, famoso e em vias de o ser mais, foi a um debate, na Suécia. Encontra "Miss A", que o convida a ir lá para casa. Têm sexo. Dias depois, noutro debate sueco, Assange encontra "Miss W", vão para casa dela e têm sexo. Os debates na Suécia já parecem um manual de instruções do Ikea, sempre com convites para montar algo. E até faltou uma peça: "Miss A" e "Miss W", tendo-se encontrado dias depois, conversaram sobre Assange e deram-se conta de que ele não usou, como prometido, o preservativo. Apresentaram queixa e estamos agora à beira de uma guerra. Já houve guerras por causas insignificantes, mas nunca por uma tão fina e transparente. Assange foi para o Reino Unido, a Suécia pediu extradição, Londres concedeu, Assange fugiu para a Embaixada do Equador, Quito deu-lhe asilo político e temos armado o conflito. O Equador quer levar Julian Assange e a Grã-Bretanha não deixa. Depois de terem guerreado os argentinos por causa de lã (nas Malvinas só há ovelhas), os britânicos arriscam-se a combater outros sul-americanos por causa de látex. Entretanto, Julian Assange está nas suas sete quintas. Se bem se lembram, ele tornou-se famoso por desvendar telegramas diplomáticos. E, agora, está dentro de uma embaixada... O embaixador equatoriano tem interesse em fechar bem as gavetas. Ele que pergunte às suecas. Assange pode só entrar quando é chamado, mas depois de lá estar não é de confiar." Genial!

Seara, o novo almirante Thomaz...


DECIDIDAMENTE O almirante Americo Thomaz encontrou um sucessor à altura quanto à sua prosa e verve. Nada mais nada menos que Fernando Seara, essa “luminária”, cujos escritos rivalizam, sem qualquer favor, com os velhos discursos do último chefe de Estado do antigo regime. Atentem nesta verdadeira "pérola" publicada pelo ainda edil de Sintra no "Diário de Notícias" e que recorda as oratórias do velho almirante no decurso das muitas inaugurações e visitas que fazia por esse País fora: "Recomeçou, com a Festa do Pontal, o ano político. E com as análises diferenciadas a que já estamos habituados. Como arranca, de verdade, hoje mesmo - e sem esquecermos a Supertaça já realizada -, a nova época de futebol. Como muitos, mesmo muitos, preparam o ano escolar. Temos, assim, vários "anos" ao longo de um ano. Mas sendo inequívoco que ainda faltam mais de quatro meses para o "ano novo"! Mas já com todas as atenções a concentrarem-se na busca das linhas gerais do Orçamento para 2013!(...)". Uma delícia, uma verdadeira delícia...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Campanha eleitoral no Brasil (VII): a vez de Chico



DEPOIS DE Caetano Veloso ter gravado o seu jingle de campanha e de ter alcançado os 10 por cento nas intenções de voto nas últimas sondagens,  Marcelo Freixo, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSOL, conseguiu tirar outro "coelho da cartola"... Nada mais nada menos que o apoio de Chico Buarque, através de uma conversa transformada rapidamente num vídeo que tem feito furor nas redes sociais e onde Chico chega mesmo a trautear uma música de apoio a este candidato. 

Números

PEÇO IMENSA desculpa a quem clama a sete ventos nas redes sociais pela demissão deste governo mas não resisto a enumerar os números, vindos a lume na imprensa, das acções de contestação ao executivo que ocorridas mais recentemente: a última manifestação à porta da Assembleia da República a exigir a demissão de Miguel Relvas reuniu 40 pessoas ; o protesto contra as portagens na Via do Infante à porta da casa de férias da família Passos Coelho arregimentou 7 contestatários; e o "buzinão" ao pé do recinto onde decorria a tradicional "festa do Pontal" juntou 50 carros. Ponto final.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O "dedo brasileiro" na campanha do MPLA



JÁ TEM uns meses, intitula-se "10 anos de Paz" e é primeiro filme concebido em Angola, para o MPLA,  por João Santana, o brasileiro que foi responsável pela campanha de Lula em 2006 e pela eleição de Dilma Rousseff há dois anos atrás. Este ano, depois de eleger o presidente da República Dominicana, Santana está envolvido em várias "frentes". A saber: na Venezuela, com Hugo Chávez; em São Paulo e Belo Horizonte, dirigindo a campanha para as prefeituras do candidatos do PT, respectivamente Fernando Haddad e Patrus Ananias; e finalmente em Angola, onde foi contratado pelo MPLA.

Estupidez

CONTAM-ME QUE seis ou sete cidadãos resolveram promover uma manifestação à porta da casa de férias do primeiro-ministro na praia da Manta Rota, exigindo o fim das portagens na "Via do Infante". Independentemente da justeza, ou não, da reivindicação que pelos vistos motivou tão vasta mobilização (faz lembrar aquela última grande manif que juntou no largo fronteiro às escadarias da Assembleia da República quatro dezenas de "gatos pingados" urrando pela demissão de Miguel Relvas e que o organizador interpretou como sendo "o eco" do vasto movimento que atravessava o País exigindo a saída do ministro do governo...), parece que a agressividade mostrada pelos marmanjos em causa foi de tal ordem que a filha do chefe do executivo entrou em pânico no percurso que a família Passos Coelho insistiu em percorrer a pé, como o faz diariamente, até à praia. E é exactamente por essa "cena canalha" (para não lhe chamar outra coisa...) que eu acho que as pessoas começaram a perder a noção do que é politicamente admissível e o que se enquadra nos limites (que obviamente tem de existir...) do famoso "direito à indignação". Vale para o que ocorreu na Manta Rota como vale para os bigodinhos "à Hitler" que são colocados em fotografias de Passos Coelho nos "facebooks" da vida, nas comparações que fazem entre ele e Salazar ou nas acusações de "ladrão" (e outras) que lhe são feitas. Atentando em quem são alguns autores ou em quem "partilha" muitos desses "insultos" (não têm outro nome) que circulam nas redes sociais, o que está em causa não é ignorância - é fundamentalmente estupidez! 

sábado, 11 de agosto de 2012

O "backup" de Portas...


LEMBRO-ME DE ter lido em 2005 (salvo erro no "Diário de Notícias") uma notícia que garantia que Paulo Portas, antes de abandonar o Ministério da Defesa,  teria mandado microfilmar todos os documentos referentes à sua passagem por aquela pasta. Apesar disso envolver alguma (para não dizer muita...) polémica, dada a "classificação" de muitos desses documentos, não recordo alguma vez ter visto algum desmentido dessa notícia - pelo que acredito que assim tenha ocorrido e que Portas tenha mesmo microfilmado a papelada em causa. Deste modo podemos estar todos descansados relativamente à recente descoberta que terá desaparecido documentação referente à negociação, durante o seu "consulado", para a aquisição dos famigerados submarinos. Desapareceu do Ministério da Defesa? Peçam a Portas, que ele é capaz de ter o backup ... 

A propósito de um post de José António Barreiros: memórias de uma conversa com Oleg Kalugin


A PROPÓSITO de umas declarações (à primeira vista um quanto estapafúrdias, convenhamos...) de Zita Seabra acerca de escutas colocadas pelos "serviços de inteligência" do PCP nos aparelhos de ar condicionado instalados pela antiga empresa FNAC em gabinetes "sensíveis" do Estado português, o sempre atento José António Barreiros lembra no seu blogue www.omundodassombras.blogspot.pt  a visita do general Oleg Kalugin, antigo chefe da contra-espionagem soviética, a Lisboa por ocasião da publicação da edição portuguesa do seu livro "Memórias de um espião". Na altura, Kalugin escreveu, afirmou (e reafirmou) que uma substancial parte dos arquivos antiga PIDE/DGS tinham sido, em pleno PREC, "transferidos" para Moscovo. E a esse propósito pergunta (e bem...) José António Barreiros: "Perante a gravidade de tais afirmações, constou então com foros de verosimilhança, que as autoridades portuguesas haveriam instaurado um processo de averiguações, para apuramento de responsabilidades. Tempo passado, há uma pergunta indiscreta a que não se resiste: alguém sabe da sorte de tal processo ou porque se deixou de falar no assunto?". E eu puxando pela memória (e não custa muito, até porque tenho tudo anotado...), lembro que, a pedido do inspector Vitor Alexandre da PJ, organizei a ida do general às instalações da DCCB na Av. José Malhoa, onde ele terá sido interrogado (ou melhor, "conversado" com três elementos da PJ) durante toda uma manhã. E que no dia seguinte, após uma viagem ao Porto e durante um almoço no Hotel do Buçaco, Kalugin "abriu-se" ligeiramente quanto ao conteúdo da conversa que tinha mantido com os nossos investigadores. À sobremesa, percebendo que eu estava "mortinho" por saber alguma coisa do que ele tinha contado na PJ, perguntou-me de rompante: "Como é que se chama aquele  almirante que tem o nome da flor da vossa revolução?" Só podia ser - obviamente - Rosa Coutinho e Kalugin por muito "nabo" que fosse nestas coisas da flora e das botânicas, era tudo menos parvo... "Rosa Coutinho?", alvitrei. "Isso, isso! Rosa, Rosa Coutinho... Esse trabalhou para nós, foi nosso agente". Assim, sem mais nem menos...
Como é que ficou o processo de averiguações iniciado pela PJ, não sei. Sei isso sim que meses mais tarde, no "Tal&Qual" pedi a alguém que confrontasse o almirante com a acusação do general Kalugin. E lembro-me que a resposta do hoje já desaparecido "almirante vermelho" ainda tornou mais credível para mim a conversa mantida com o general à volta da mesa no Buçaco.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Os cem anos de Jorge Amado


DEVO A meu Pai ter conhecido, entre tanta gente, também Jorge Amado. Lembro-me que a primeira vez que o vi e que com ele troquei duas ou três palavras foi no lobby do Hotel Tivoli, onde acompanhei meu Pai para uma conversa que eles tinham marcado. Terá sido, mais coisa menos coisa, há trinta anos e guardo ainda a imagem de uma espalhafatosa e jovial Beatriz Costa irrompendo por entre os sofás do rés-do-chão daquele hotel e positivamente atirando-se nos braços e colo do escritor. Lembro-me bem daquele dia, do jeito de Amado - baianão, aparentemente mole e mandrião, falando baixinho e com um olhar perscrutador e sempre atento a alguma movimentação feminina mais apelativa nas redondezas. 
Depois disso, tive oportunidade em Salvador de o ver uma ou duas vezes - uma delas onde já funcionava a Casa Jorge Amado, ali a dois passos do Pelourinho. Óbvia conversa de circunstância ("como vai?", "de férias aqui pela Bahía?", "dê um abraço em papai, não esqueça", aquelas coisas...) e pouco mais. Dessa vez, recordo que tinha acabado de ler o seu "Navegação de Cabotagem" um diário que  escreveu e que apesar de ver pouco referido entre as suas obras, acho que é uma "peça" essencial para quem quiser perceber a personagem em si, até mais que o escritor Jorge Amado, nomeadamente o seu percurso político, a "sombra" do Nobel nunca atribuído que o seguiu durante toda vida, etc. E confesso (eu sei que é um bocadinho ridículo, mas pronto...) que amaldiçoei-me a mim mesmo por não ter o livro comigo para lhe pedir uma dedicatória.
Anos mais tarde, no final da década de 90,  viajei propositadamente até Paris para me encontrar com Amado e dirigir-lhe pessoalmente um convite para um doutoramento honoris causa. Combinado tudo telefonicamente com a sua filha Paloma, lá estava eu às três em ponto da tarde à porta do prédio do Marais onde a família Amado passava largas temporadas. Lembro-me que o código da porta (que Paloma tinha-me transmitido pelo telefone) tinha um "xis" - as coisas que nós nos lembramos! Estava eu a digitar o código da porta, quando Zélia Gattai surge à minha frente: "Ôi! Jorge lhe está esperando, mas venha antes ali comigo comprar uns petit-fours, subimos depois...". E lá fui eu como que "arrastado" por uma frenética Dona Zélia, Marais abaixo na direcção de uma patîsserie onde, pela autêntica festa com que a autora do "Anarquistas graças a Deus" foi alvo por parte das empregadas, percebi que era habituée.
Quando minutos mais tarde subi ao apartamento dos Amado (com Zélia e os petit-fours...), confesso que tive um choque. O Jorge Amado que me esperava era já um Jorge Amado muito debilitado, recostado numa cadeira Corbusier, praticamente cego e com grande dificuldade em fazer as "despesas" da conversa. Paloma era já então uma indispensável "bengala" de seu pai - afectuosa, carinhosa, permanentemente disponível e atenta ao mínimo detalhe que pudesse contribuir para a sua comodidade. No fundo foi com Paloma que acertei a data e todos os outros detalhes da cerimónia e quais os muitos amigos portugueses de Jorge Amado que ele fazia questão que estivessem presente dali a três ou quatro semanas no doutoramento. Quando uma hora depois me despedi da família e ouvi de novo o simpático mas já muito balbuciante "abraço a papai, viu?" da boca do escritor e entrei no elevador, mais do que pensar que ainda não tinha sido dessa que tinha conseguido que Amado me dedicasse um livro (no caso os dois volumes que constituem a primeira edição(!) dos "Subterrâneos da Liberdade" que eu "herdei" e levava na pasta), tive a sensação que, apesar de estar tudo combinado para daí a três ou quatro semanas, era a última vez que ia ver Jorge Amado... Assim foi: muito poucos dias depois, recebi um telefonema de Paloma dizendo-me que o pai tinha sofrido  um acidente vascular-cerebral e que teríamos de cancelar tudo o que estava combinado. Algumas semanas depois, rodeado de inúmeros cuidados médicos, a família conseguiu que ele regressasse a Salvador, à sua casa do Rio Vermelho. Morreu - julgo eu - dois anos depois. Dizem-me que desde o acidente de Paris nunca mais voltou a falar. Quis o destino que eu deva ter sido uma das últimas pessoas que falou com ele...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Campanha eleitoral no Brasil (VI): Kertész em estilo "sertanejo pop"...



IMAGINAÇÃO É coisa que não está a faltar nesta campanha eleitoral brasileira. Depois do clip num estilo meio rapper produzido pela campanha de Elmano Freitas em Fortaleza e aqui publicámos, aqui está o estilo mais "sertanejo pop"(!) usado pela campanha de Mario Kertész a prefeito de Salvador num clip que está a fazer sucesso em terras baianas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Samba passarinho by Péri



NO DIA em que Caetano Veloso celebra 70(!) anos, aqui fica um excelente trabalho (a todos os níveis) de Péri Nogueira, alguém que já foi aqui referenciado por outras "andanças" musicais e que interpreta desta forma tão fantástica este seu "Samba Passarinho". É a minha homenagem, através do meu amigo Péri, a Caetano!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

São Tomé e Príncipe: vem aí o porto de águas profundas

HÁ ANOS no papel, parece que é desta que o porto de águas profundas de S. Tomé e Príncipe vai avançar. O complexo, que servirá de entreposto para 16 (!) países da África Ocidental que não possuem terminais portuário de grande calado, é um velho projecto dos sucessivos governos sãotomenses e que fez muito empresário português sonhar com esta "galinha dos ovos de ouro" que nunca passou do papel. Até agora, altura em que o empresário brasileiro Roger Agnelli, antigo presidente da poderosa Vale e hoje à frente da AGN, meteu mãos à obra e com o apoio do BNDES (uma instituição financeira estatal brasileira) vai liderar um projecto que poderá envolver cerca de um bilião de dólares e que conta, naturalmente, com o entusiástico apoio do governo de São Tomé. Quem pode, pode...

domingo, 5 de agosto de 2012

Campanha eleitoral no Brasil (V): Fábio Câmara


CANDIDATO A vereador em São Luís, capital do estado do Maranhão, Fábio Câmara é aquilo que normalmente nós denomimanos como "uma figura". De origens humildes, com um instinto político notável, faz questão de contar sempre que pode como iniciou o seu envolvimento na política: nada mais nada menos que como "auxiliar de serviços gerais" no seu partido (o PMDB), ou seja a limpar as casas de banho da sede. Ao longo dos anos soube  construir uma sólida e ampla "rede" de apoios em toda a capital maranhense, mercê de uma permanente disponibilidade para ajudar tudo e todos, com especial destaque na área da saúde. Nos bairros mais pobres de São Luís, a popularidade de Fábio é enorme e  o seu "peso" na eleição do futuro prefeito já é significativa, dada a expectativa que o seu resultado eleitoral no próximo dia 7 de Outubro prenuncia. E já que neste blogue tem-se falado de outras campanhas por terras brasileiras, atrevo-me a deixar aqui o cartaz e conceito da campanha de Fábio Câmara, que tive o gosto de conceber em parceria com o director de arte Edson Rosas. De vez em quando temos de "puxar a brasa à (nossa) sardinha", n'é?

PS - Vale a pena ver (e ouvir) o discurso de Fábio Câmara na inauguração do seu comité de campanha através do link http://www.youtube.com/watch?v=yB1ZRZaYHM4

sábado, 4 de agosto de 2012

Campanha eleitoral no Brasil (IV): a importância do "jingle"


TEMA MUSICAL de campanha eleitoral, vulgo jingle, tem obrigatoriamente de conter argumento e conteúdo. Não pode ser só uma "musiquinha bonita com umas rimas certas", tem que ser muito mais que isso - tem de conter a mensagem e o conceito da campanha eleitoral. Ouvi (e aprendi) isso da boca de Duda Mendonça mil e uma vezes. E tive o privilégio (porque de facto é um privilégio) de, em 2010, assistir e até participar na composição de alguns jingles de campanha - com ele e com Péri Nogueira, um extraordinário compositor baiano há alguns anos radicado em São Paulo e que é, a par do também extraordinário PC Bernardes, um dos maiores autores musicais de jingles eleitorais (e não só). Aqui fica um exemplo do talento de Péri, no caso com o tema da campanha de Mário Keréstz, candidato a prefeito da sua cidade natal, Salvador. Vale a pena ouvir (e ler...).

Eurico e "o padre moscobita"



A PROPÓSITO da morte de Eurico de Melo e trocando mails com o meu amigo Jorge Lemos Peixoto, este contou-me uma  "velha" estória verdadeiramente deliciosa que tem o desaparecido "vice-rei do Norte" como protagonista e ocorrida durante um concerto de Júlio Iglesias no Casino Estoril. Tão delicioso é o episódio que não resisto aqui a contá-lo - obviamente com a devida anuência e autorização de quem me relatou. No jantar que antecedeu o espectáculo do cantor espanhol, Jorge Peixoto partilhou, juntamente com Joaquim Letria, a mesa com Eurico de Melo e respectiva senhora. Na mesma mesa, sentaram-se também dois actores brasileiros, então muito em voga em Portugal: Gracindo Júnior e Claudio Cavalcanti (na foto). Este último que interpretava na telenovela "Roque Santeiro" o papel do "padre Albano", o sacerdote progressista, defensor dos "Sem Terra" e verdadeiro ódio de estimação do tradicional e conservador "padre Hipólito", o velho  aliado da oligarquia tradicional a que o genial Paulo Gracindo dava corpo - lembram-se? Pois bem... No final do jantar e no percurso até ao "Salão Preto e Prata", Eurico de Melo não se conteve e abeirando-se de Letria (que durante o jantar tinha animadamente conversado com os dois actores), fez um pedido com aquela sua impagável e característica pronúncia: "O sinhore Letria bai-me desculpar, mas a minha mulher fazia muita questong  que o sinhore Letria nos apresentasse ali ao padre moscobita...". Extraordinário!

P.S. - Aliás, a propósito da morte de Eurico de Melo e das suas estórias, recomendo ler um episódio que o embaixador Seixas da Costa relata no blogue e que é, também, uma verdadeira delícia: http://duas-ou-tres.blogspot.com.br/2012/08/eurico-de-melo-1925-2012.html

Campanha eleitoral no Brasil (III): o envolvimento de Caetano



HÁ MUITO avesso a envolvimentos políticos, desta vez Caetano Veloso não resistiu a alinhar de "corpo e alma" (e voz também, é claro...) na campanha de Marcelo Freixo, o candidato do quase inexpressivo PSOL à prefeitura do Rio de Janeiro. Apesar do actual prefeito Eduardo Paes ter praticamente assegurada a reeleição e Freixo até agora não conseguir descolar dos 8 por cento nas sondagens, a campanha deste outsider promete primar por uma certa originalidade. A começar por este jingle de campanha que foge a todos os cânones, mas que já vem fazendo furor em certas franjas do eleitorado carioca.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Leitão CDM

ANTES DE mais uma "declaração de interesses": confesso que tenho algum apreço pela figura de Rui Rio. Conheço-o mal, mas do pouco que convivi com ele na campanha eleitoral para as legislativas de 1995 dei-me conta de ser alguém sério, trabalhador e determinado. Acredito que seja também, como garantem os seus críticos, "obstinado", "teimoso" e "irascível". Mas até prova em contrário, para mim é uma pessoa estimável. E ponto final.
Vem isto a propósito de uma verdadeira "palhaçada" que está a ter a cidade do Porto como palco e que foi originada pelo facto, de há alguns meses, a Câmara Municipal do Porto ter-se recusado a distribuir  um suposto guia da cidade onde a capa era ocupada por uma fotografia do mercado do Bulhão onde se podia ler a olho nu a seguinte inscrição mural: "Rio FDP" - inscrição essa, note-se, que nunca existiu na realidade, mas sim que por artes mágicas (leia-se photoshop ou coisa do género) foi inserida na imagem. Parece que quem está por detrás de tudo isto é um tal Leitão, editor da publicação em causa, que apesar de andar há uns anos a sacar uns cobres à autarquia da Invicta à conta do tal guia, não se coíbe de insultar Rui Rio e neste caso concreto sua Mãe.
Pelo que tenho lido, esse tal de Leitão, furioso pela Câmara do Porto ter obviamente denunciado o contrato que mantinha com a publicação, já chegou ao ponto de tentar agredir o autarca e, intimado pelos tribunais a justificar o insulto a Rui Rio na capa do tal "guia", veio atabalhoadamente argumentar que "FDP" significava "fanático dos pópós", numa alusão ao apoio que a edilidade portuense tem prestado ao renascido Circuito da Boavista. Ou seja, pelos vistos o referido Leitão nem homenzinho é para assumir o que fez... Se eu estivesse no lugar de Rui Rio já lhe tinha espetado dois "bananos na tromba". Mas não estou... Assim só me resta escrever (bem legível e sem artifícios de photoshop...) que o tal de Leitão é um "CDM". O que é isso? Um cobarde de merda!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ridículo...

ACREDITEM QUE ficava extremamente agradecido se alguma alma caridosa me explicasse qual o mal desse terrível "escândalo" que nos últimos dias tem dominado as redes sociais e até (pasme-se!) as primeiras páginas de alguns jornais e que se prende com o facto de Miguel Paes do Amaral ser simultaneamente administrador de 73 empresas - aliás de que ele é também accionista... Alguém me poderá elucidar qual e onde está o problema? Alguma dessas 73 empresas é pública? Será que o accionista Paes do Amaral não tem direito a escolher (no caso ele próprio) quem quer ver sentado nos lugares a que tem direito do conselho de administração de cada uma dessas empresas? De facto, em Portugal começa a perder-se a noção do ridículo... 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eurico de Melo


COM 86 anos, morreu Eurico de Melo. Há muito afastado da ribalta política, aquele que em tempos era tratado como "vice-rei do Norte" foi, durante alguns anos, uma importante figura no "xadrez" político nacional. E possivelmente também uma das primeiras "vítimas" daquele "jeito" de Cavaco Silva em livrar-se quanto antes possível de todos quantos foram determinantes para o guindar ao poder. Essa lista é longa, mas o velho engenheiro era certamente, por direito e entusiasmo próprio, um dos que a encabeçava...