Os comentários a este blogue serão moderados pelo autor, reservando-se o mesmo a não reproduzir aqueles que pelo seu teor sejam considerados ofensivos ou contenham linguagem grosseira.

sábado, 30 de junho de 2012

O índice de Dilma


UM ESTUDO divulgado hoje no Brasil e levado a cabo pelo Ibope revela que a aprovação do desempenho presidencial de Dilma Rousseff encontra-se nos 77 por cento, ao fim de ano e meio de governo. No mínimo extraordinário, se tivermos em conta um certo "arrefecimento" da economia brasileira e alguns pequenos aparentes desaires sofridos pela base aliada na sempre complexa cena política brasileira. É aquele frio mas pragmático "jeito búlgaro" de Dilma a dar frutos e que começa a ser um sinal bem significativo que a sua sucessão pode passar por... ela mesma - e não pelo seu antecessor, como muitos ainda querem fazer crer.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A lucidez de Eduardo Cintra Torres

O SEMPRE lúcido e excelente observador Eduardo Cintra Torres, na sua crónica diária no "Correio da Manhã" - no caso, de hoje: "O jogo terminou com Ronaldo falando para as câmaras de TV ("In-jus-ti-ça!"), como já fizera ao dedicar um golo ao filho, um sinal de preocupação excessiva com a imagem quando comparada com a preocupação com a performance na partida. Pode um jogador dar o seu melhor quando joga em simultâneo no estádio de futebol e no estádio global do espectáculo televisivo?". É difícil resumir melhor a preocupação do "rapazolas", sempre com um olho na bola e outro no ecrã gigante...

"Direita dos negócios" soma e segue...

O DESFECHO do "folhetim" Cimpor e a consequente nomeação de figuras gradas da chamada "direita dos negócios" para importantes cargos na cimenteira hoje controlada por uma empresa brasileira onde pontifica um dos "homens-de-mão" de José Sócrates, só prova que ainda há quem, mesmo longe de Lisboa, seja grato a quem o serviu e defendeu nos últimos anos... 

sábado, 23 de junho de 2012

A propósito de uma frase do dr. Arons...

COMEÇO POR recorrer-me de uma frase: "(...) uma ameaça não é grave pelo efeito que tem, mas pelo efeito que se pretendia que viesse a ter(...)". O autor? Alberto Arons de Carvalho, actualmente membro da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), pessoa que conheço há anos (muitos) e que até há algum tempo atrás considerei como alguém estimável. Em que contexto foi proferida essa frase? No âmbito da decisão tomada pela ERC após o processo de averiguações levado a cabo relativamente ao caso das alegadas pressões que o ministro Miguel Relvas sobre uma jornalista do "Público - mais concretamente na declaração de voto (vencido) que Alberto Arons de Carvalho celeremente produziu e divulgou.
Após este "intróito" e a propósito desta frase, que tive o cuidado de contextualizar, não resisto a contar o ocorrido, salvo erro no início de 1998, trabalhava eu então como jornalista no semanário "Tal&Qual" e integrava Alberto Arons de Carvalho o governo de António Guterres como secretário de Estado da Comunicação Social... 
*
Tudo começou quando, através de fontes do próprio governo, soubemos que o então primeiro-ministro, por força da doença da sua mulher Luísa, passava grande parte da semana em Londres, chegando ao ponto de cancelar parte da sua agenda oficial. Nada de extraordinário (bem antes pelo contrário...), salvo o facto dessas ausências do chefe do governo (mais do que justificadas, note-se!) serem feitas à socapa e à revelia, ou seja, sem que, contrariamente a a tudo o que seria ética e republicanamente recomendável, o gabinete do primeiro-ministro emitisse tão simplesmente uma nota oficial em que comunicasse, por exemplo, que "devido a problemas de ordem familiar, durante algumas semanas" o chefe do governo seria obrigado a ausentar-se periódica e regularmente do País. Tão simples quanto isso - aliás no próprio governo existia na altura quem defendesse esse tipo de comportamento e transparência. Mas não, no gabinete de Guterres prevaleceu a tese de esconder as viagens privadas (e realce-se, obviamente compreensíveis) do primeiro-ministro, chegando mesmo quem tivesse garantido ao próprio chefe do governo existir um "acordo" com os jornais da época em que estes, através dos seus directores, se comprometiam a "não tocar no assunto". Desconheço se esse acordo existia, ou não. Sei - isso sim - é que connosco, no "Tal&Qual" ninguém falou, porventura por não nos incluírem naquilo que, já na altura, se denominava como "imprensa de referência"... A verdade é que no "T&Q", sabedores de tudo o que se passava (até porque as nossas fontes começavam no governo e acabavam na própria família de Luísa Guterres...),  discutimos longamente a oportunidade, ou não, de pegar no assunto. Nesse debate interno (onde participaram quem na altura possuía alguma responsabilidade no seio do jornal) , foram pesados prós e contras, sobre o que do nosso ponto de vista era ética e deontologicamente aceitável e as "fronteiras" que não poderíamos (ou devíamos) pisar. Lembro-me que na altura, num contacto que entretanto foi estabelecido com o inner circle de Guterres sobre o tema, presurosamente alguém do lado de lá, atabalhoadamente e a despropósito, veio a invocar o tal famigerado acordo (ou "pacto de silêncio", chamemos-lhe assim) para o qual nunca tínhamos sido tido ou achados, mas no qual, de um momento para o outro, pelos vistos já estávamos incluídos - sem nunca sequer termos sido consultados.
Abreviando... O facto é que no "T&Q" decidimos "pegar" no assunto, tendo sido eu e o repórter fotográfico José Carlos Pratas (a quem se deve, em grande parte, o êxito da primeira das reportagens) encarregues de acompanhar o tema. Foi o que fizemos durante algumas semanas, numa investigação jornalística que implicou dezenas e dezenas de contactos, duas ou três atribuladas viagens a Londres e outras tantas matérias jornalísticas publicadas. Aparte de um outro título ou "manchete" que eu, hoje em dia, possa achar como excessivo ou mesmo discordar, não existe em nenhuma linha das reportagens que escrevi sobre o assunto nada que fosse mentira ou tivesse sido alvo de desmentido ou que não tivesse sido previamente confirmado. 
Não vou aqui enumerar as pressões que o "T&Q" recebeu ao longo dessas semanas. Foram muitas, variadas e vindas um pouco de todo o lado. Umas mais subtis, outras mais "à bruta", mas todas com um único e só objectivo - que, pura e simplesmente, nos calássemos. Não o fizemos. Existe uma, porém, que eu não esqueço - mesmo que tenham passado os 14 anos que passaram... Foi a exercida pelo então secretário de Estado da Comunicação Social através de um telefonema feito para o José Rocha Vieira, na altura responsável máximo do jornal e no qual o governante em causa ameaçou em queixar-se aos na altura eram proprietários do jornais (o grupo suiço Edipresse) sobre o comportamento do "T&Q", bem como alertá-los para as consequências que, a todos os níveis, que isso poderia ter para  as publicações que o grupo editorial detinha em Portugal. Mais: nesse telefonema, em que também "fui metido ao barulho", Alberto Arons chegou mesmo ao ponto de "alvitrar" que governo poderia vir a considerar como "indesejável" qualquer investimento que, no futuro, a Edipresse pretendesse vir a fazer no nosso País. Lembro-me, como se fosse hoje, da extraordinária, irónica e inteligente resposta do Zé Rocha Vieira: "O melhor é o Arons falar directamente com o escritório de advogados que tratou da 'entrada' da Edipresse em Portugal - o do dr. Jorge Sampio e do dr. Vera Jardim ...".
Na altura, o telefonema foi-me contado timportim pelo próprio Rocha Vieira. Talvez por conhecer o Alberto Arons desde os anos 70, por até sempre ter mantido com ele uma relação cordial, a minha reacção foi - mais do que tudo -  de profunda desilusão, até porque uma atitude dessas era oposta a tudo o que, como autor, professor, deputado, membro do Conselho de Imprensa e até jornalista (ainda que por breves três anos), Alberto Arons sempre defendera. Lembro-me que na altura enviei-lhe um cartão para o seu gabinete na sede da Presidência do Conselho de Ministros e em que (sic) o mandei "badamerda". Soubesse o que sei hoje e aposto singelo contra dobrado que nessa missiva apenas teria escrito uma frase: "Uma ameaça não é grave pelo efeito que tem, mas pelo efeito que se pretendia que viesse a ter".

quarta-feira, 20 de junho de 2012

E recorrer ao TPI, porque não?



LEIO ONTEM na edição online do "Expresso" que o relatório preliminar da ERC sobre a alegada "pressão" que Miguel Relvas teria exercido junto de uma jornalista do "Público" e que será hoje votado pelos cinco membros que compõem esse órgão regulador iliba totalmente o ministro dessas acusações. A confirmar-se a notícia do semanário do dr. Balsemão e sem querer ser adivinho ou vidente, já vislumbro as acusações e suspeições que vem aí: que a ERC é um "braço" do governo; que o seu presidente foi escolhido a dedo por Passos Coelho; que existe uma vogal que até é amiga de Relvas, sei lá mesmo se não vão "investigar" algum café que ele tenha tomado há dois ou três anos atrás com Carlos Magno numa qualquer pastelaria de Campo de Ourique... No fundo vão querer passar  a ideia que já estaria tudo mancomunado para inocentar o ministro, que a sua  ida do ministro à ERC não passou de uma "encenação" e que Relvas é um malandro da pior espécie, useiro e vezeiro em pegar no telefone e ameaçar tudo o que é jornalista que ouse sequer questioná-lo sobre o que quer que seja. 
Já vislumbro mesmo o dr. Louçã a perorar e pregar na Assembleia exigindo mais nãoseiquantas comissões de inquérito; o dr. Zorrinho atrapalhado e gaguejante, atendendo um longo e entediante telefonema do sempre teórico dr. Arons e ao mesmo tempo tentando vislumbrar se o dr. Ricardo Rodrigues ainda tem os famosos gravadores no bolso; ou a deputada Apolónia naquele seu habitual estado de pré-apoplexia a debitar umas quantas frases feitas e  como habitualmente misturando alhos com bugalhos. Isto para não falar da legião de auto-intitulados opinions makers, sempre tão ao sabor da corrente e sempre lestos a engrossarem a coluna dos que, para se mostrarem à la page, preferem esquecer e atropelar factos e "alinhar" no que, aos olhos dos amigos e comparsas  é politicamente correcto.
Para quem ficar mesmo desolado, irritado, furioso até com o facto da ERC poder vir de facto a ilibar Miguel Relvas no famigerado inquérito que tanta tinta já fez correr, o melhor mesmo é arranjar maneira de recorrer para Haia, mais concretamente para o Tribunal Penal Internacional. Isto está a ficar de uma maneira, que já nada me espanta...


PS - Como já cá ando há muitos anos, também não me espantava nada que a notícia dada ontem pelo "Expresso" tivesse sido "plantada" por alguém que, tendo tido acesso às conclusões do relatório técnico, tentasse assim condicionar alguns membros da ERC na votação do mesmo. E entretanto - claro! - introduzir algumas  "subtis" alterações no relatório final que, de algum modo e ao de leve, pudessem "beliscar" Miguel Relvas, na prática não o inocentando totalmente neste "folhetim". É que por muito "teóricos" e "professorais" que algumas figuras possam parecer, às vezes "na prática" são uns verdadeiros "doutores" na arte da manha e da sonsice. A propósito: um dia destes, vou contar um telefonema que um secretário de Estado de governo socialista (e com a tutela da Comunicação Social...) ameaçou fazer para a Suiça a queixar-se aos "patrões" de um jornal que então existia em Portugal. Assim mesmo, tal e qual...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Esquerda e direita, segundo Maluf


CONTROVERSO, POLÉMICO, arrastando mil e um processos judiciais (está mesmo impedido de sair do Brasil, sob pena de ser extraditado para os Estados Unidos...), Paulo Maluf é provavelmente o maior sobrevivente da política brasileira. Apoiante entusiasta da ditadura, ícone da direita no pós-regime militar (chegou a ser candidato contra Tancredo Neves), prefeito e governador de S. Paulo e hoje a liderar um pequeno partido que tanto se alia ao PT em São Paulo como ao direitista DEM em Salvador, Maluf sempre foi conhecido por não ter propriamente "papas na língua" e dizer exactamente o que pensa. Há dois dias, quando a candidatura de José Serra à prefeitura de S. Paulo aguardava confiante o seu apoio (e o sempre útil minuto e 35 segundos diários de tempo de antena televisivo...), eis que Maluf surpreendeu tudo e todos e "trocou" as voltas e deu o apoio a Fernando Hadad, o ainda frágil candidato do PT de Lula em São Paulo, recebendo uma secretaria no governo de Dilma. Curiosamente no mesmo dia em que explicava aos jornalistas que, no Brasil, "não há mais esquerda e direita, o que há são segundos de TV"...

"Veja": a vez de Durão

ALGUMAS SEMANAS depois de uma entrevista com Passos Coelho ter ocupado as chamadas "páginas amarelas" da "Veja", o último número desta revista brasileira concedeu esse mesmo espaço a Durão Barroso em vésperas da sua chegada ao Brasil para participar na conferência "Rio+20". Apresentado como alguém que é "fluente inglês, francês, espanhol e capaz de discursar em italiano e alemão", Barroso (que confessou não gostar do termo "austeridade") não mostrou grande dificuldade, na entrevista concedida por telefone (em português, supõe-se...), em encontrar justificação para o actual estado das contas públicas europeias. Diz o nosso antigo primeiro-ministro, sem que se sinta nas suas palavras qualquer "pontinha" de auto-crítica referente aos tempos passados na residência oficial de S. Bento que "na Europa, vários países gastaram acima dos recursos de que dispunham e acumularam dívidas elevadas". Pois é... 
Mas se Barroso fala e compreende assim tantos idiomas, esperemos que o presidente do Irão não perceba patavina de português. É que quando questionado pelo jornalista Dudu Teixeira sobre se sente algum "desconforto" em cruzar-se no Rio de Janeiro com Mahmoud Ahmadinejad, o líder da Comissão Europeia não se conteve: "Muitas vezes encontramos pessoas em cuja companhia nossas mães não gostariam de nos ver(...)".

Nada mais que a sua obrigação...

QUE ME perdoem os incondicionais fãs de Cristiano Ronaldo (e depois do jogo de há bocado, curiosamente voltaram a ser muitos...), mas hoje ele não fez mais que a sua obrigação e o que se espera dele. E reparei mesmo que afinal o rapaz celebra os golos com os colegas! Pelo menos, os dele... 

PS - Que grande jogo fez o Pepe! Melhor: que grande "Euro" está a fazer o Pepe!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Nuno Teotónio Pereira


NINGUÉM DUVIDA que Nuno Teotónio Pereira é uma das grandes referências da arquitectura portuguesa. Aos 90 anos, com uma carreira profissional notável, unanimemente reconhecido tanto entre os seus pares como pela sociedade e com um percurso enquanto cidadão eticamente irrepreensível, já é altura de, em vida, Portugal mostrar a Teotónio Pereira o reconhecimento de um País que muitas vezes prefere perder-se em encómios tardios e muitas vezes desajustados a, em seu tempo, expressar a sua gratidão a quem efectivamente a merece. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Já chega!



DE VEZ em quando, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros - vá lá saber-se porquê - tem uma estranha necessidade de falar alto e dar uns murros na mesa. Dizem-me que não é de hoje, que já nos tempos do "Independente" também lhe davam esses achaques e essas "furiazinhas", quase sempre inconsequentes e também quase sempre tendo como alvo quem, por esta ou outra razão, não podia (ou devia) responder-lhe à letra. Feitios...
Pouco me importa que Paulo Portas se irrite com a secretária porque a caneta está sem tinta, berre com o adjunto porque o interrompeu, ponha na rua do gabinete o prestável segundo ou terceiro-secretário de embaixada pelo ofício estar mal escrito ou amue com o motorista porque este não ligou a sirene que certamente tanto lhe apraz. Se ele bate as portas com força ou atira o telemóvel quando a vida não lhe corre bem tão-pouco me interessa por aí além, que é como quem diz, é para o lado onde durmo melhor. A coisa muda de figura quando o que está em jogo é o interesse nacional... Aí - passe a expressão - "alto e pára o baile"!
Vem isto a propósito da forma altaneira, grosseira e arrogante como o responsável máximo da diplomacia portuguesa tratou as novas autoridades da Guiné-Bissau (ao ponto de ameaçá-las com uma força militar de intervenção!), ao arrepio do que seria histórica e logicamente aceitável, "cortando" à partida todo e qualquer diálogo que devia e teria de existir entre Lisboa e Bissau. Sobranceiro, a reboque dos interesses hegemónicos que Angola possui naquela região de África, Portas "hipotecou" quase quarenta anos de um relacionamento nem sempre fácil, mas sempre "costurado" com algum talento e habilidade por muitos governos que, independentemente das suas cores políticas, conseguiram estabelecer e manter (mesmo em período bem mais difíceis e complicados que os que vive actualmente a Guiné-BIssau...) pontes e compromissos que permitiram ao nosso País manter uma significativa presença a todos os níveis naquelas paragens. Ao longo destes anos, Portugal conseguiu "travar" a ofensiva francesa para absorver aquele que é um verdadeiro "enclave lusófono" no chamado "espaço da francofonia" naquela região, manter e promover alguns investimentos significativos para a economia local e ser o parceiro privilegiado a nível político dos guineenses. E já agora, recorde-se que foi exactamente na Guiné-Bissau onde se travou porventura o mais traumático (para ambos os lados) conflito militar entre Portugal, enquanto potência colonizadora, e os movimentos de libertações das antigas colónias...
A obstinação de Portas em manter a posição estapafúrdia de não reconhecer o novo poder em Bissau, quando países como, por exemplo, os Estados Unidos, a Rússia e a França (claro...) já o fizeram é claramente nociva ao interesse nacional. Mais: num momento em que - garantem-me - o próprio governo de Luanda prepara-se para nomear um novo embaixador na capital guineense, Portugal insiste em manter uma posição que só reforça as teses de quem (e não são poucos...), no seio do novo governo, defende a saída imediata da Guiné-Bissau da CPLP e a adesão ao "espaço francófono". Já para não falar das licenças de pesca que estão a meses de caducar e cuja renegociação urge, ou da segurança dos quase 6 mil portugueses (portugueses mesmo, não só de passaporte...) que lá estão radicados.
Como alguém me dizia ao telefone, desde Bissau, há poucos dias "em apenas dois meses, Paulo Portas conseguiu delapidar o que foi construído em quase quarenta anos de  relações entre Portugal e a Guiné...". Será que ainda se irá a tempo de remediar a situação? A resposta cabe, de algum modo, a Pedro Passos Coelho, certamente mais preocupado com o interesse nacional que o seu "número três", esse sempre mais atreito e afoito a colocar-se em bicos de pés e exibir e alardear um poder(zinho) que - coitado... - acaba onde começam os interesses de quem dele (Portas) põe e dispõe! E já agora, alguém tem de explicar ao actual inquilino do palácio das Necessidades que ter boas relações com as antigas colónias não é apenas andar de braço dado e mão-estendida em Luanda, mas também dar a mão, por exemplo, em Bissau... 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

E pôr o rapazolas no banco, que tal?!

ACABEI DE ver (a muitos quilómetros de distância) o jogo que opôs a nossa selecção à Dinamarca. O facto de ter ficado satisfeito com o resultado, não me impede de constatar o que muitos, há muito, vem afirmando - a falta de classe e de categoria da selecção portuguesa, ou melhor, da maioria dos seus jogadores. 
Mas isso são contas de outro rosário... Até porque o desafio com os dinamarqueses só veio confirmar o que há muito penso sobre aquele que é apresentado como a "estrela" da equipa, que cada vez mais alia a vulgaridade à arrogância típica dos energúmenos. É que jogar mal ou menos bem, acontece a qualquer um; errar um passe, embrulhar-se num drible ou falhar um remate, é próprio de quem está lá dentro do campo. Agora, exibir sucessivamente aquele ar de "frete", fazer esgares de descontentamento para os colegas por alegadamente não o "servirem" ou (mais grave!) alhear-se de celebrar os golos, mostra bem o carácter do rapazolas, sempre lesto a mandar os "gorilas" a atirar ao rio quem o interpela justamente pelo comportamento incorrecto que alardeia na noite lisboeta, mas bem pouco célere em exibir a humildade que caracteriza os grandes campeões. Sejamos claros: alguém tem de pôr esta "figurinha" na ordem - entenda-se sentá-lo no "banco". Por muito que isso que isso custe ao outro (banco), é nestes momentos que se vê quem, de facto, é um verdadeiro líder. Por outras palavras é nestes momentos que podemos ter a certeza que  Paulo Bento "é quem sabe". E não qualquer banco... Compreenditi?


PS - Já repararam que os grandes campeões são sempre unânimes e respeitados nos seus países? Olhem, por exemplo, agora o caso de Messi na Argentina. Ou de Nadal em Espanha. E no Brasil? Alguém discutia Airton Senna ou Pélé? Ou na Alemanha, Franz Beckenbauer? Já para não falar em França com Platini. Ou Magic Jonhson nos Estados Unidos. Pois é...

Stevenson: eu vi-o perder...


CREIO QUE foi em 1976 (quando muito em 1977) que, em Cuba e desafiado por meu Pai, vi pela primeira vez  um combate de boxe. E que combate... Foi em Matanzas, a cento e poucos quilómetros de Havana. O cartel (se é que se lhe pode chamar assim) opunha o já mítico e campeão olímpico Teófilo Stevenson a Angel Milián, um pugilista que tinha acabado de sagrar-se campeão nacional e que - se a memória não me atraiçoa - tinha para além da alcunha de "Miura"(!), a particularidade de ser ligeiramente coxo. Não vou dizer que me lembro como se fosse hoje, mas há imagens desse combate que ainda hoje guardo, como por exemplo a elegância de Stevenson a tentar escapar-se ao corpo-a-corpo com um Milián que era um verdadeiro "armário" e tinha um soco poderosísimo ou o árbitro a cair desamparado no chão quando tentava separar os boxeurs. Como também recordo o meu "fraquinho" por Milián e a natural alegria que senti quando este, no final dos três rounds, foi declarado (justo) vencedor, contra a expectativa de tudo e todos.
Hoje, quando a propósito da morte de Teofilo Stevenson leio que o tri-campeão olímpico ganhou 301 dos 321 combates que disputou e que dezasseis dessas derrotas ocorreram no início da sua carreira, dou por mim a pensar que afinal, há quase quarenta anos, fui testemunha de um acontecimento invulgar - a de ter presenciado o juíz de um combate que tinha Stevenson como litigante a erguer outro braço que não o do homem que foi o símbolo do êxito desportivo do regime cubano e que, em plena década de 70, ao recusar uma então multimilionária oferta de 5 milhões de dólares para radicar-se nos Estados Unidos, taxativamente afirmou para gáudio de Fidel Castro: "Antes rojo, que rico...".

Gorbatchov: a incompreensão dos russos


UMA RECENTE sondagem do Centro Nacional de Sondagens de Opinião Pública russa indica que apenas 14 por cento dos russos aprovam o "consulado" de Mikhail Gorbatchov, o "pai" da perestroika - exactamente metade dos que ainda hoje defendem o período liderado por Estaline... 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Tózé "vira" Zé Tó e Lourinhã... Covilhã

A PROPÓSITO de TV's, no caso da TVI24... Há dois ou três dias, no programa "25ª Hora" o descuido foi de tal ordem que, numa reportagem exibida sobre uma visita efectuada pelo secretário-geral do PS ao Oeste, no oráculo em vez de Lourinhã surgiu "Covilhã"(!) e na locução off António José Seguro foi apresentado como "José António Seguro". Pois é...

Tristes e poupadinhos...

É IMPRESSIONANTE as horas que as nossas TV's "gastam" com os programas de voxpop... "Opinião Pública", "Discurso Directo", "Antena Aberta", eu sei lá, uma série interminável de programas que mais não são que um pivot e uma câmera (às vezes, quando muito com um convidado) ouvindo os telefonemas com as opiniões dos mesmos telespectadores de sempre, com aqueles clichés para que já não há pachorra ("a culpa é dos políticos...", "andam todos a gamar" e outras banalidades do género) a que o pivot ora acena afirmativamente com a cabeça, ora sorri ligeiramente, ora põe um ar condoído, ora despacha o interlocutor de qualquer maneira. É o retrato triste de um País triste. E é o retrato triste de como as nossas televisões arranjaram maneira de poupar dinheiro. É que sempre é mais barato que exibir uma série ou fazer uma reportagem, n'é?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Maria Keil: o sorriso mais sorriso que me foi dado ver


ERA SIMULTANEAMENTE doce, frágil e amiga. É essa a imagem que guardo da Maria Keil. Para mim "a Maria do Chico", "a Maria dos desenhos dos Contos Tradicionais", "a Maria dos azulejos", a "Maria da escrivaninha", a Maria sinónimo de ternura, a Maria de quem minha Mãe tanto gostava, a Maria com o sorriso mais sorriso que alguma vez me foi dado ver.
Tive muita, muita pena mesmo, que a Maria tivesse partido. Sem pieguices... é uma parte da minha infância que também parte...

sábado, 9 de junho de 2012

Será?


DAQUI A umas horas a selecção portuguesa de futebol estreia-se no Euro-2012. Muito sinceramente pouco ou (quase) nada espero de uma representação nacional que se tornou numa triste e bacoca "feira de vaidades" onde pseudo-vedetas, que se preocupam mais com os penteados, carros e roupas que com a sua prestação em campo, são comandados por um treinador cuja boa-vontade e seriedade não supera um inexistente currículo. Oxalá me engane (eu e muitos portugueses) e daqui a bocado a selecção nacional mostre em campo que afinal aquilo não é um grupo de estarolas deslumbrados com eles próprios, mas sim uma equipa com pés e cabeça. Será?

O lulismo sob análise


A REVISTA "Piauí" é porventura a mais interessante publicação brasileira da actualidade. Mensal, com um toque algo "alternativo" é leitura obrigatória para quem queira entender o Brasil de hoje. O seu último número lê-se de ponta a ponta, com especial destaque para um artigo do jornalista e antigo director de redacção da "Veja" Mario Sergio Conti (autor do "Notícias do Planato", um excelente livro que retrata os bastidores do traumático governo Collor) intitulado "Lula pop" e que analisa o livro "Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica"  do psicanalista Tales Ab'Sáber, uma obra que retrata os oito anos do governo de Lula da Silva e que tem tudo para tornar-se indispensável para quem quiser, a partir de agora, estudar o "fenómeno" que abalou a última década no Brasil. Da recensão de Conti, não resisto a transcrever uma passagem que julgo traduzir, de facto, o que foi a política dos últimos governos do PT: "Depois de se aproveitar de crises para se livrar de dois ministros que ambicionavam a sua sucessão, José Dirceu e António Pallocci, Lula exerceu o poder plenamente. E desenvolveu uma política a favor dos extremos da sociedade, os milionários e os muitos pobres. Para estes últimos, concedeu bolsas sociais, de no máximo 200 reais, a quase 13 milhões de famílias, introduzindo-as num universo mais amplo de consumo. Tais bolsas não ultrapassaram o custo total de 1% do Produto Interno Bruto. Mas, aos que vivem de rendas financeiras, em 2009 Lula destinou 5,4% do PIB apenas em serviços dos juros da dívida pública. No ano seguinte, os juros e a rolagem da dívida consumiram 45% do orçamento da União, 635 bilhões de reais. Com isso, diz Ab'Sáber, o presidente 'cooptou amplamente os muitíssimos ricos'".

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pobre "DN"...


POR MUITA contenção que se queira ter, até pelo muito respeito que se tenha por uma história de anos e anos e pela memória que nos suscita tanta e tanta gente que por ali passou, é difícil olhar para o que é hoje o "Diário de Notícias" com outro sentimento que a comiseração pelo estado a que chegou aquele que já foi, de facto, o principal diário português. A definhar de dia para dia (então, segundo me dizem, em termos de vendas é o caos...), raro é o dia em que o outrora credível "DN" não nos brinda com claros exemplos de pura e simples ignorância. E não me venham dizer que a culpa é dos jovens jornalistas, hoje mal pagos e recrutados à pressa, que enxameiam as redacções... Não! A culpa é de quem revê, de quem coordena, que quem edita, de quem dirige! A notícia publicada hoje acerca do início do julgamento do chamado "mensalão" no Brasil é o exemplo claro de como é possível descer tão baixo no que é rigor jornalístico. Como é que é possível afirmar, ainda por cima em título, que se escreva que o governo de Lula será julgado por corrupção a partir de 1 de Agosto? Como é que é possível afirmar que o processo do "mensalão" provocou a renúncia de "vários ministros", quando apenas o ministro da Casa Civil abandonou o cargo? Como é que é possível escrever que o ministro da Fazenda se demitiu na sequência do chamado "mensalão"? Tudo isto se define numa simples palavra: ignorância.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Já chega...

A MUITOS quilómetros de distância li ontem que a jornalista Maria José Oliveira ter-se-ia demitido do "Público", alegando publicamente já não possuir "confiança" na direcção do jornal.  Mas eis que quase de imediato,sou surpreendido na blogosfera e nas chamadas "redes sociais", com sucessivas e variadas leituras e interpretações para a demissão da jornalista, insinuando as tais "pressões" e algumas mesmo falando em "despedimento" - isto apesar dela mesmo já ter  apresentado os motivos para a sua saída do jornal. Como isto anda, não me espantaria que daqui a uns dias Miguel Relvas, Passos Coelho ou um outro qualquer membro do governo fossem apontados a dedo como os responsáveis de um "despedimento" que afinal não passou de uma mera demissão de quem, por razões que ficaram suficientemente explicitadas pela própria, resolveu bater com a porta da rua Viriato. Eu até  acredito que a saída da jornalista do "Público" pode ter dado um jeitão a quem gosta de "ver mosquitos na outra banda", mas de vez em quando um bocadinho de bom senso não ficava nada mal, n'é?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O "xadrez" de 2015



PELA PRIMEIRA vez desde 1985, quando Francisco Salgado Zenha e Maria de Lourdes Pintasilgo surgiram como outsiders nas eleições presidenciais  daquele ano e baralharam uma disputa que à partida estaria bipolarizada entre Mário Soares e Freitas do Amaral, a "corrida" a Belém que terá lugar daqui a dois anos e meio promete ser disputada não a dois, mas sim a mais - no caso a seis - candidatos. E disputada, diga-se em abono da verdade, de forma bem renhida, com uma inevitável segunda volta a ditar o vencedor. 
É que tanto no PSD como no PS, a melindrosa e difícil escolha dos candidatos oficiais levará a que surjam naturais e significativos focos de descontentamento. Qualquer dos nomes que hoje se falam para corporizar as candidaturas presidenciais nos dois maiores partidos - Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor BelezaDurão Barroso, Pedro Santana Lopes e agora até Assunção Esteves, no PSD; e António Costa, Ferro Rodrigues, Jaime Gama ou mesmo de António Guterres e até José Sócrates(!!!) no PS - não são propriamente unânimes ou "pacíficos" dentro das respectivas hostes e vão logicamente criar significativas "bolsas" de contestação, estimulando e abrindo o caminho ao surgimento de candidaturas outsiders no mesmo espaço político. Se por exemplo, a escolha do PSD não recair não será por isso que Santana Lopes  não entrará na "corrida" a Belém - aliás, algo que ele já deu como certo. E à esquerda, será muito difícil convencer Manuel Carvalho da Silva a não ser candidato, tão "empurrado" que tem sido nos últimos meses por significativas franjas do PS (com especial destaque para os "soaristas"), pelo Bloco de Esquerda e até por certos e discretos sectores do PCP que veriam com bastante mais simpatia uma candidatura do antigo líder da CGTP que a de um Francisco Lopes qualquer...
À direita, por outro lado, a estratégia de Paulo Portas a curto e médio-prazo passa inevitavelmente por uma candidatura presidencial, de forma a mostrar o seu verdadeiro "peso político". O líder do CDS sabe que "vale" mais que o seu partido e o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros que exerce tem-no deixado à margem do natural desgaste que sofreria se ocupasse uma outra pasta qualquer. Ou seja, pela primeira vez desde 1990, o CDS vai ter o seu candidato próprio, ainda que irá, também ele, na prática ser um outsider.
À partida, seis candidatos com scores eleitorais não muito distintos e a adivinhar uma passagem à segunda volta disputada ao milímetro, muito dependente das prestações televisivas (com os debates a terem um papel preponderante...) e dos erros que (não) se podem cometer. Porque se é verdade que os candidatos oficiais do PSD e do PS (sejam eles quais forem) possuem uma base eleitoral ligeiramente superior à dos outros hipotéticos contrincantes (à volta dos 20 por cento), não é menos verdade que qualquer dos outros - o candidato do PCP, Pedro Santana Lopes, Manuel Carvalho da Silva e Paulo Portas nunca arrancarão da "grelha de partida" com um score inferior de 10 por cento cada um. O que garante uma disputa renhida, com um resultado obviamente imprevisível. E também alinhamentos e "realinhamentos" determinantes e certamente "curiosos" para quem passe à segunda volta. Um autêntico jogo de xadrez...

Guiné-Bissau: o medo de pedir o agrément

MERCÊ DAS precipitadas e desajustadas declarações de Paulo Portas sobre a situação na Guiné-Bissau, Portugal perdeu toda e qualquer capacidade de diálogo com as novas autoridades daquela antiga colónia. Nada que surpreenda quem conhece minimamente a realidade guineense e tenha desde sempre interpretado a inopinada intervenção do chefe da diplomacia portuguesa como um verdadeiro "tiro no pé" e um verdadeiro "frete" ao regime angolano a quem Portas, em tudo o que é aerópago,  tenta agradar a qualquer jeito. 
E a trapalhada chegou a um ponto que, desde há algumas semanas, Portugal não dispôe de embaixador em Bissau... E as notícias postas a correr que isso se deveria ao facto de Portugal ter retirado o seu embaixador da capital guineense em jeito de retaliação e condenação do golpe de estado e assim diminuído o ranking da nossa representação diplomática para o nível de encarrgado de negócios, são pura e simplesmente falsas... Sejamos claros: a embaixada portuguesa em Bissau é chefiada por um encarregado de negócios porque o governo português teve receio de ver negado pelas novas autoridades o necessário pedido de agrément para a nomeação de um novo embaixador que substituísse António Ricoca Freire, cuja transferência para a África do Sul foi anunciada em... Janeiro, ou seja, praticamente quatro meses antes da deposição do governo de Carlos Gomes Júnior. Aceitam-se apostas para saber como é que Portas irá descalçar esta bota...

Que lindo par de jarras...


PARECE QUE o encontro deu-se no palácio de Belém, numa daquelas habituais e sensaboronas apresentações de cumprimentos de despedida ao Presidente da República por parte da selecção nacional de futebol, numa tradição que cheira a mofo e que não há quem tenha a coragem de pura e simplesmente suprimir. E os termos e expressões usados no convite expresso e formalizado pelo "capitão ao chefe de Estado não podia ser mais revelador: "Em nome da selecção entrego-lhe esta camisola e convidamos você para ir assistir a um jogo, tá?". De facto estão bem um para o outro...


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Embaixador João Sá Coutinho


SÓ AGORA soube que faleceu há dias o embaixador João Sá Coutinho, porventura um dos mais competentes diplomatas portugueses da sua geração. Com um notável sentido de serviço à causa pública, dotada de uma capacidade nata para relacionar-se e avesso às habituais intrigas que muitas vezes tomam conta dos longos e sussurrantes corredores do palácio das Necessidades, o conde de Aurora representou (e bem!) Portugal por esse mundo fora - em Bissau e Luanda (capitais onde foi o primeiro embaixador português), Madrid, Vaticano, isto já para não falar nos inúmeros cargos que ocupou na estrutura diplomática, nomeadamente como secretário-geral. Um homem bom, um excelente diplomata que deixa saudades a quem, nem que fosse por pouco tempo, com ele conviveu.